:: 27/mar/2021 . 18:22
Luto : Ilhéus chora a perda de Mãe Laura
Por: Emenson Silva
“ Obatalá decidiu viver com os orixás no espaço sagrado que fica entre o Aiyê (terra) , e o Orun (céu)”. A morte faz parte da vida , muda-se apenas a existência , mas o espírito persiste. Para nós candomblecistas, o bom é morrer com muitos anos de vida, assim como foi a belíssima passagem terrena de Mãe Laura , grande líder espiritual e comunitária de Ilhéus e região. Para nós , vida longa e sinal de que a pessoa viveu em sintonia com os desígnios divinos.
O luto é entendido como um rito de passagem , uma vez que a morte , é compreendida como um fato social de importância . Existem ritos e rituais no candomblé que são realizados para chegarmos próximos do entendimento dessa mudança de condição para os que ficam no Aiyê (terra) e para quem se foi de volta ao Orun (céu).
Momento de grande reflexão e silêncio, pois estamos em meio a essa trágica Pandemia do Coronavírus , daí cabem algumas indagações: como ficam as obrigações fúnebres? Como vivenciar esse luto? Como cumprir nossos ritos que é uma premissa indispensável no candomblé?
Os adeptos do candomblé assumem a doença e morte como uma decorrência da vida. Entretanto, mesmo sabendo desses fenômenos , não estamos preparados para as perdas como uma dessas da Yalorixá Mãe Laura Sandoiá, sacerdotisa, mulher negra, líder firme em seus posicionamentos , empoderada e mestra da cultura popular.
Como adepto do candomblé, falo da morte não para expurga-la, mais para restituir- lhe a leveza e reiterar nossa crença na continuidade e nos laços eternos que nos unirá sempre.
Quero trazer com essa reflexão , toda minha emoção , todo meu sentimento de fraternidade e solidariedade a toda família do Ilê Axé Guainá de Oyá. Sentiremos saudades, da nossa querida Mãe Laura , que permanecerá conosco em espírito , e estará no Orun ao lado de Obatalá, e será sempre reverenciada aqui no Aiyê, pelos seus grandes feitos ao axé, símbolo de lutas e resistências. Por isso viver de forma digna é condição fundamental para seguir o seu destino, mesmo depois da morte.
Que Oxalá, acomode a dor e o sofrimentos dos que aqui ficaram e promova a inserção de Mãe Laura Sandoiá, no mundo espiritual dos ancestrais.
Axé! Agô.
Morre Mãe Laura, vítima de COVID-19
A ialorixá Mãe Laura, de 72 anos, faleceu na manhã deste sábado (27), em Ilhéus. Ela havia sido diagnosticada com Covid-19 e estava internada na Unidade de Terapia Intensiva, do Hospital de Ilhéus, na Cidade Nova, mas não resistiu à doença. Ela era a sacerdotisa do Terreiro Ilê Guainia de Oiá, no Pontal, considerada uma das maiores lideranças religiosas do sul da Bahia.
“Para a umbanda, a perda é irreparável, pois mãe Laura dedicou várias décadas à religião com amor, fé e muita devoção aos orixás”, lamentou um dos filhos de santo em lágrimas à reportagem do Site Fábio Roberto Notícias.
Devido ao protocolo das autoridades em saúde, não haverá velório como também cerimônia de despedida, como forma de evitar a propagação da covid-19.
Descanse em paz, Mãe Laura!
Informações Blog Fábio Roberto