Se você assina TV paga, caro leitor ou leitora de A TARDE, preciso avisar que você está prestes a sofrer uma rasteira.

Na calada da noite, seja qual for sua operadora, seu bolso será  esvaziado mais um pouquinho. Ou seja, o que estou afirmando aqui, nesta coluna dominical, é que, se nenhum organismo como Procon, Proteste ou Ministério Público tomar a defesa de todos nós, consumidores, seremos lesados em mais alguns reais já a partir de janeiro do próximo ano. Do que estou falando? Eu explico…

 

Como quem não quer nada, as operadoras andam soltando a esmo uma inocente informação: de que, a partir de 2017 não pretendem mais vender pacotes de banda larga como fazem hoje. A saber: hoje a leitora trabalhadora e dedicada, quando assina um serviço de banda larga, paga por um pacote de tamanho “X”: seja 10, 20, 50 ou 100 mega etc.

Por esse pacote “X” os assinantes têm direito a fazer tudo que querem com internet no dia a dia: mandar e receber emails, entrar em redes sociais aqui ou acolá, xingar o governo num sistema de comentários qualquer, baixar música, acessar sites de sua escolha e, principalmente, nos últimos meses, até assistir a capítulos de seu seriado preferido no Netflix, entre outras coisas.

Como muita gente ainda não sabe, apesar de oferecer pacotes por tamanho (10, 20, 30 ou 100 mega), as operadoras deram um jeitinho de “ludibriar” a todos nós consumidores – com o beneplácito da sempre omissa  Anatel. Hoje as operadoras não são obrigadas, de forma alguma, a entregar o pacote que você compra.

Para os inocentes: embora você pague um plano de, por exemplo, até 100 megas por mês, a operadora não é obrigada a lhe fornecer isso. Não. Ela pode te dar apenas, digamos, 10% desse pacote e você não pode fazer nada, porque a agência do governo permite e dá ok.

Portanto, assim como temos um governo praticamente delinquente, empresas também podem delinquir sem qualquer punição. Ou melhor, elas têm direito a isso. Conquistaram esse direito!

Veja bem: você faz um pacote de 50 mega, mas, graças ao lobby das operadoras você recebe em casa apenas 5 megas e vai ter de ficar quietinho, caladinho, porque essas empresas deram um jeito de tornar legal uma óbvia ilegalidade. É legítimo, afirmam, fornecer menos banda larga do que o que você comprou. O por quê? Vá perguntar à vergonhosa Anatel.

Pois bem, a coisa vai piorar agora.

Com o advento e expansão de serviços de streaming como o Netflix, os assinantes começaram a gastar banda demais. Assistir a filmes e seriados via streaming, de fato, consome muito mais banda do que apenas mandar e receber emails ou clicar em sites.

Como as operadoras começaram a perder cada vez mais assinantes de TV, porque o consumidor, em vez de gastar uma nota com pacotes cheios de canais repetitivos, muita gente agora prefere assinar a Netflix e vê ao que bem entende.

Então as operadoras tramaram um novo “golpe” – contra a Netflix e contra nós consumidores: a partir do ano que vem querem cobrar não mais por pacotes de banda larga fechados, mas por um pacote “ajustável”, no qual você pague pelo volume de dados que consumir.

Vou resumir: se na sua casa as pessoas assistem Netflix todo dia, a partir do ano que vem sua operadora vai começar a cobrar você pelo volume de dados que você consumir, e não pelo sistema que esteve em vigor (na sua mensalidade) até hoje.

Ou seja, como num passe de mágica as operadoras vão liberar todos os megas do combo que você comprou, e não apenas 10% como fizeram até hoje. Por quê? Porque assim você terá conexão suficiente para assistir duas, três ou dez Netflix ao mesmo tempo. O problema é que, com isso, você vai esgotar cada vez mais rapidamente seu “pacote de dados”. E quando ultrapassá-lo, das duas uma: ou terá a conexão cortada ou terá de pagar um “extra” na próxima conta por conta dessa “ultrapassagem”.

Isso significa, entre outras coisas, que se duas ou três pessoas da sua casa assistem Netflix em aparelhos iguais ou diferentes, em 2017 sua conta de banda larga poderá vir cada vez mais salgada: o preço da mensalidade vai aumentar de acordo com a quantidade de banda que você e seus filhos consomem.

Vai ser mais ou menos como funciona com alguns pacotes de celular hoje: depois que você ultrapassa seu pacote a operadora tem direito de cobrar mais ou suspender seu uso.

Parece uma enorme sacanagem contra o consumidor, e É.

Entre as justificativas para essa mudança de regras no meio do jogo, alguns executivos de operadoras já andam lançando “balões de ensaio” do tipo: “ora, mas é assim que funciona na telefonia, não é?”; ou “ora, mas nos EUA também funciona desse jeito” e outras malandragens usuais.

Coisa nenhuma. A justificativa é obviamente dupla: sufocar a crescente expansão da Netflix, que lhe rouba assinantes (como avisamos aqui no ano passado, de que um golpe contra esse serviço estava em andamento) e enfiar a mão um pouco mais no bolso de nós consumidores.

De quebra garante ainda que a TV paga (e sua péssima programação atual) continue viva.

Resta saber se ficaremos calados ou vamos enfrentar mais esse atentado contra todos nós, contra a economia popular.

Só TV paga

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Bíblia

A nova fase da novela Os Dez Mandamentos, da Record, estreou com quase 20 pontos em Salvador. Vem aí mais dor de cabeça para a Globo em terras baianas.